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Entrevista de Tahiana D’Egmont para o Jornal DCI

São Paulo – Ela já comandou várias empresas da área digital, teve salário de R$ 30 mil e se deu o direito de abrir mão de tudo e viajar alguns meses pela Ásia. Quando voltou foi contratada para presidir uma das principais plataformas de financiamento coletivo (crowdfunding) do País, a Kickante.

Essa trajetória, que poderia ser de um executivo de 40 ou 50 anos de idade, é da jovem carioca Tahiana D’Egmont. Aos 30 anos de idade e, portanto, pertencente à geração Y, ou “nativa digital”. Hoje, ela lidera uma equipe de 18 pessoas – o mais velho tem 34 anos.

A aptidão para os negócios da era digital veio cedo: aos 12 anos de idade, já demonstrando traços dos “ipisilones” – aqueles que preferem se comunicar através de meio eletrônico – insistiu com o pai até ganhar um livro de programação de computador. “Fiz meu primeiro site e tudo começou.”

Em 2001, foi para os EUA aprender inglês, quando voltou fez cursos on-line e na oitava série estagiou em uma produtora de site e anúncios para a internet. Antes de ingressar em publicidade no Rio, voltou aos EUA para programa de intercâmbio. No segundo semestre da faculdade abriu agência digital com um amigo e aos 20 anos criou uma empresa de otimização de site (SEO, Searghing Engeneering Otimization, em inglês). “Não deu muito certo, a empresa virou ponto de encontro da turma da faculdade”, comenta.

A pouca idade não foi empecilho para receber várias propostas de trabalho de agências digitais, e Tahiana veio para a capital paulista em 2007 coordenar a área de SEO para clientes estrangeiros na Media Contacts. Ali, mais uma vez, inovou ao sugerir e gerenciar uma pioneira equipe de gestão de mídias sociais.

A veia empreendedora falou mais alto e, em sociedade com um colombiano que continuou trabalhando em Miami, criou a Mentez, de produção de aplicativos para marcas dentro de redes sociais como Orkut e My Space. Quando essas redes foram “escanteadas” pelo Facebook, ela apostou no Colheita Feliz. No Brasil, 80% da base da internet havia aderido à brincadeira. “Faturamos alto”, conta. Como? A Mentez importou o jogo da China, onde foi criado, com adaptações necessárias. “Embora o jogo fosse gratuito, criamos a moeda virtual ‘verde’ com a qual o internauta poderia acelerar o acesso às etapas seguintes”, lembra. “Muitos usuários das classes C e D não usavam cartão de crédito nem boletos, então vendíamos cartões pré-pagos em pontos de recarga”.

Nessa fase, a Mentez chegou a ter dois escritórios na Colômbia e um no Brasil para cuidar das áreas de designer, comercial e tecnologia. A startup deu tão certo que em 2010 os sócios não resistiram à oferta do Insight Venture Partners, investidores estrangeiros.

Selecionada para um programa do Vale do Silício, Tahiana planejava dar uma volta ao mundo depois dessa nova etapa de sua carreira. Mas aceitou o cargo de diretora de marketing da startup desenvolvedora de jogos para celular Vostu, de ex-alunos de Harvard e sediada em Nova York e escritórios no Brasil e Argentina. “A proposta salarial era tão absurda, R$ 30 mil fora participação acionária e outros benefícios, que não resisti, relata”. Depois de seis meses, ela pediu demissão e foi viajar por quatro meses pela Ásia.

De volta, em 2012, Tahiana ensaiou vários projetos, alguns deles, no entanto, não foram tão bem-sucedidos, como a Unipay, que acabou em 2014. “Tive de vender carro para pagar as contas e fechar a empresa, fora o desgaste emocional.” Depois dessa experiência Tahiana prestou consultoria em marketing até conhecer Candice Pascoal, uma baiana que mora no exterior e que em 2013 fundou aqui a Kickante. “A empresa começou forte com projetos de música”, conta ela, que é presidente da empresa desde 2014 e viu avanço de 1.500% no primeiro semestre deste ano no número de campanhas realizadas.

De janeiro a agosto deste ano foram arrecadados R$ 14 milhões. A Kickante possui os dois recordes brasileiros de arrecadação em crowdfunding. O primeiro foi batido no início deste mês, na Campanha Santuário Animal. O segundo é a campanha para um tour de palestras sobre empreendedorismo da jovem paulistana considerada uma das 100 pessoas mais influentes do Brasil.

Hoje, olhando para trás, ela relativiza os preconceitos enfrentados pelo fato de ser executiva e CEO tão jovem. “Embora nos negócios digitais seja mais comum os dirigentes ter menos idade, só agora me visto de forma mais despojada, pois antes tentava enfrentar o preconceito com roupa formal”. Também frustrou o desejo do pai, que queria vê-la aprovada em concurso público, como ele, funcionário do Banco do Brasil e Petrobras. Quais os planos daqui para frente? Bom, pelo menos por agora, continuar CEO da Kickante, espalhando a novidade no País. “Depois dos projetos musicais e literários, os brasileiros estão descobrindo que podem empreender, lançar novos produtos por meio desta forma de financiamento.”

Artigo escrito por Liliana Lavoratti, para o Jornal DCI.

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